A guerra contra um mosquito – O que mais dá medo em uma sociedade do que uma doença?

             A doença assombra, passa a falsa sensação de que, mais do que a violência é a algo que foge do controle humano, dizem. E a violência não seria nada mais do que a escolha que o ser humano faz, ou ele é bom ou ele é ruim, dizem.  E a sociedade previne, tem que prevenir não deixar água acumulada, tomar vacina, usar repelente, compre repelente o eficiente, aquele que te previne de qualquer espécie relacionada ou parecida com um pernilongo, esse mosquitinho minúsculo que zomba nos ouvidos humanos nas mais remotas noites quentes do verão. Previne o mosquito, use aquele inseticida dos bons que borrifa veneno de 15 em 15 minutos enquanto você respira o ar recalcado da cidade cheia de mosquitos, inconvenientes, quem sabe o posto de saúde mais próximo não distribui repelentes eficientes.

                É caro no mercado, é caro e vale mais do que dois sacos de arroz, pra quem não recebeu seu salário seria necessário priorizar, ou eu vivo com medo de uma doença, ou eu encaro essa violência, ou eu almoço hoje. E faz calor e como faz calor. Faz tanto, tanto calor que aumentaram as incidências do mosquito tropical, disseminaram mais doenças, só não distribuíram minha renda, então eu perdi a cabeça e no meio dessa imensa violência poderia assim causar o fechamento da ponte Rio-Niterói e um tumulto no fluxo de quem vai e nem para e nem presta atenção na situação de medo, caos e violência. Cada um por si, cada um com seu, garantia de serviços prestados é seguir o fluxo sem reflexos de um para o outro, sem nossos reflexos nos espelhos.

                Surtou o homem, dizem. Um surto. Surtou o mosquito, ele declarou guerra e não é a primeira vez que esses terroristas disfarçados de patinhas preto e branco invadem nossas casas, só não gravaram um vídeo e ninguém sabe qual é sua tática. Ano passado mesmo foi operação Zica, combina com o ao contrário de sorte, tinha um nome mais difícil que esse, que a dona Maria do bairro que nunca recebeu se quer uma água encanada nem conseguia dizer pra o senhor doutor do postinho que há meses ela esperava uma consulta prévia. Era Chico alguma coisa que eu tinha, disse ela. Que mosquito mais maligno, todos contra ele.

                E agora é febre, febre de verão, febre que mata mais. Febre do interior, febre da mata fechada. Essa natureza hein, eu não vou pro mato não, nem passo perto de árvore, seu habitat natural. Doença tropical. Mas tenho aqui nessa cidade pobre sem saneamento básico, pobre sem salário, pobre violento, pobre no pé do morro, pobre que morre de desespero, pobre em lixo acumulado, pobre pescando em rio sujo. É uma doença, ninguém escapa dessa doença que degenerativa. Mas a gente declara guerra, a esse mosquito.

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( Prefeitura arrisca alusão a Star Wars mas coloca aedes aegypti do lado bom )

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